Acredito que comida de infância pode ser alimentada durante qualquer fase das nossas vidas. Não necessitamos ter cinco anos de idade para guardar um sabor ou uma textura que possam nos direcionar a um passado esquecido e afetuoso no futuro. Comida de infância é toda comida que recebe um ingrediente não fÃsico, não tangÃvel, não material. Comida de infância é feita com sentimentos, com emoção, com dedicação e com afeto, devendo ser envolvida por relações de carinho e cuidado que se tem com alguém Ãntimo ou querido.
Tenho conseguido manter uma relação de proximidade com meu passado afetivo culinário, seja na infância com minha querida mãe cozinheira, onde guardo o sabor do pudim de pão, a textura do vatapá ou o som da batida manual dos ovos, anunciando que o bolo estava em preparação, ou na minha fase atual de vida, lembrando simplesmente da comida que prazerosamente foi elaborada por amigos, semana passada, para comemoração de um momento especial.
Toda esta memória afetuosa da comida de infância vem de forma espontânea, transportando minha realidade para uma noite qualquer de natal, para meu aniversário, para o almoço do domingo passado, para uma merenda da tarde, para um café da manhã.
Uma mordida em uma receita de comida afetiva representa uma passagem para um perÃodo de profunda felicidade, uma passagem para lembranças de um passado, não necessariamente distante, mas necessariamente afetuoso.