São João sempre comecava na companhia dos meus pais para fazer as compras juninas na grande feira livre de Feira de Santana (Bahia). O interesse infantil era mesmo na infinidade dos adereços vendidos nessa ocasião. Era tudo de papel, muito colorido e artesanal. Chapéu, flores, mini guarda chuva, lenço para o pescoço. Entre os milhos, amendoins, jenipapos, laranjas, aipins e cocos, sempre sobrava um tempo para as compras dos adereços que usarÃamos nas noites de São João e São Pedro.
De volta à s comidas, sempre achei que a canjica era a “Rainha do Milho” da festa e o amendoim cozido o “Rei”, meus pratos favoritos. O processo do preparo iniciava-se pela compra das espigas verdes dos milhos e pelos cocos inteiros. Nunca entendi como minha mãe conseguia escolher os milhos e os cocos (embalados entre cascas e cascos), sem vê-los,  com uma sabedoria exata e precisa.
Em casa, mãos habilidosas descascavam e debulhavam os milhos, quebravam os cocos com uma precisão milimétrica, transformando-os em duas partes simétricas, que seriam ralados e de onde eram extraÃdos seus leites caudalosos, quase um creme. Bater o milho no liquidificador, passar na peneira, espremer no pano de prato até ter um liquido espesso, homogêneo e amarelo, jogar na panela e temperar com sal, açúcar, manteiga, cravo, canela e o leite de coco, que dava o tom da consistência.
Na minha casa materna canjica era de corte. Deveria ser despejada nas travessas brancas e quando fria teria uma consistência para corte. O toque final era a canela em pó jogada com muita elegância por cima das travessas.
Adorava o ritual da transferência da panela fumegante para as travessas brancas, onde, alguém precisa sacudir as travessas para que o creme se espalhasse uniformemente sem formar ondas na superfÃcie. No final tÃnhamos as recompensas; uma panela para ser lambida e um pratinho de canjica que podia ser comido na hora, mesmo quente.
1 – INGREDIENTES
- 1 xÃcara de leite de vaca
- 400 ml de leite de coco (duas garrafinhas)
- 100 ml de água
- 1 xÃcara de açúcar
- 1 pitada de sal
- 6 espigas de milho maduras
- 50 g de manteiga com sal
- Cravo, canela em pau e canela em pó a gosto
2 – MODO DE PREPARO
- Debulhar o milho com ajuda de uma faca;
- Colocar os milhos, a água, o leite de vaca e 200 ml do leite coco no liquidificar. Bater bem até formar uma pasta homogêneo;
- Passar o milho batido por uma peneira fina ou coador, espremer bem para separar o bagaço;
- O caldo resultante da peneira ou coador, deve ser passado por um pano de prato, deixando-o bem liso, sem presença do bagaço;
- Em uma panela grande despeje o lÃquido, acrescente a pitada de sal, o cravo e a canela em pau e leve ao fogo médio mexendo sempre para não embolar;
- Quando a mistura começar a engrossar, junte o açúcar e a manteiga e continue mexendo por aproximadamente 25 ou 35 minutos. Durante este tempo acrescente 200 ml de leite coco, se necessário;
- O ponto certo da canjica é quando ela engrossa e começa a soltar do fundo da panela;
- Transfira para travessas e polvilhe com canela em pó.
3 – DICA
- As espigas dos milhos apresentam tamanhos variados, podendo interferir na consistência final da canjica.
- A adição dos 200 ml de leite de coco, durante os 25 a 30 minutos do cozimento, deve regular a consistência final, podendo inclusive ser necessário mais um pouco de leite de coco ou leite de vaca durante este tempo.
- O ponto certo é quando a canjica começa soltar do fundo da panela.
4 – NA FOTO ABAIXO
- A – 6 espigas do milho para serem debulhadas;
- B – Os milhos já debulhados com ajuda de uma faca;
- C – O bagaço, não descartar. Congelar, pode ser usado em outras receitas;
- D – O caldo bem liso, que foi passado na peneira (ou coador) e no pano de prato para ser separado do bagaço.
 [...e da próxima vez quero leite de coco do coco e travessas brancas...]